quinta-feira, setembro 28, 2006

DESAFIOS E FRACASSOS DA HUMANIDADE
Por:
José Antonio Campos do Rêgo
Leandro Gameleira do Rêgo

É com a certeza de que os recursos naturais são cada vez mais escassos e menos renováveis, e que o meio ambiente está hoje mais degradado do que esteve ontem, no ano passado, ou no século passado que nos propusemos a organizar este artigo. O homem, o ser dos seres, o único o qual conseguiu desenvolver uma “inteligência racional”, age de forma impiedosa na busca de “crescimento” e “desenvolvimento” econômico sem dar ou querer dar conta do rastro de destruição ambiental que se segue à sua conquista ambiciosa. É através desta reflexão que fica clara a necessidade urgente de ser colocada a questão da sustentabilidade ambiental nas discussões políticas, nas associações de bairro, nas escolas, nos fóruns de discussões e até mesmo na família, ou seja, onde houver uma mente racional que possa compreender a necessidade urgente de ação. Esta clara a necessidade de ações tanto globais como locais no sentido de viabilizar políticas de desenvolvimento que incorporem os princípios de sustentabilidade e de ampla temática do meio ambiente. Essa consciência materializou-se através da aprovação de importantes acordos multilaterais como a “Agenda 21” em 1992. Nos dias atuais percebemos o quanto é difícil colocar esses acordos tão importantes em prática, pois os interesses econômicos e políticos das nações, muitas vezes, dificultam o seu cumprimento, mesmo após muitas tentativas de negociação entre as partes envolvidas nas conferências e seminários, tanto no âmbito nacional como internacional.
Todavia, pudemos presenciar um crescimento significativo no interesse da sociedade sobre as questões de proteção ao meio ambiente. A consciência ambiental ganhou magnitude e hoje interage com todos os setores sociais e os tomadores de decisão dos diversos segmentos e áreas do conhecimento. Mesmo com alguns avanços, persistem as dificuldades de inclusão efetiva da questão ambiental nas agendas e nas políticas de desenvolvimento em todo o mundo. A não efetivação dos compromissos estabelecidos são demonstrações deste contexto.
Em nome do “Desenvolvimento” há uma força que impera e coíbe ações mais consistentes na proteção ao meio-ambiente, e apesar da urgência dos problemas sociais e ambientais, na corrida entre a degradação dos ecossistemas e deste desenvolvimento, prevalece a degradação, enquanto o crescimento econômico que teoricamente nos livraria dos males, segue em seu curso perverso patrocinando a falência do meio ambiente e da sociedade.
Diante da insustentabilidade da desordem atual, em todas as dimensões: política, social, econômica, ambiental, cultural e ética; o debate entre desenvolvimentistas e ambientalistas se dá sem que consigam colocar um freio na desordem destrutiva que ora é reinante. Apesar de inúmeros congressos, seminários, pronunciamentos e discussões sobre a importância da biodiversidade, o que ser percebe são: milhares de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção, inclusive a própria espécie humana como é o caso das populações indígenas que sofrem os impactos do avanço impiedoso do progresso da civilização industrial; surgimento de novas epidemias (vaca-louca, gripe do frango), desastres naturais (El Nino, La Nina, os Furacões Wilma, Catarina e Katrina, Tsunamis, etc.), aumento da pobreza com crianças morrendo prematuramente e seres humanos sofrendo os efeitos da poluição dos rios, lagos, do ar e do solo. O Globo e sua biodiversidade clamam por ações práticas em defesa de sua preservação, os exemplos desse clamor sucedem-se em períodos de tempo cada vez mais curtos.
É de fundamental importância repensar a reconstrução das indústrias, produtora de bens e serviços como também consumidora dos recursos naturais e matérias-primas. Para amenizar os efeitos do processo de deterioração social e ecológica de nossa sociedade é necessário redefinir as atividades industriais, abandonando aos poucos setores que produzem com matérias-primas não renováveis, que são intensivos em energia, e com alto grau de entropia. De pouco adiantará o crescimento econômico se este basear-se em atividades que consumam matéria-prima não renovável, que poluam o meio ambiente e que deixem resíduos tóxicos de complicado e lento tratamento. É mais que urgente resgatar a dívida ecológica.
Quando se sai do campo teórico e se busca perceber as ações dos governos na prática da defesa do meio ambiente, e consequentemente da vida, temos a angustia de nos deparar com exemplos como o da Agenda 21 (oriunda da Eco 92 no rio de Janeiro) em que foi elaborado um plano de ação com mais de duas centenas de propostas que induziriam mudanças. A promessa dos dirigentes das nações era implantar parâmetros para atividades econômicas ecologicamente sustentáveis, mediante o desenvolvimento de políticas ambientais. Mas, apesar de muitos desses governos, inclusive os Estados Unidos, terem criado comissões para desenvolver estratégias para a Agenda 21 em seu território, não ficou confirmado que esses exercícios resultaram em reais mudanças das políticas nacionais ambientais.
Uma análise dos resultados obtidos, inclusive em ações baseadas na Agenda 21, mostra que não há avanços em programas e projetos, em que a sociedade seja convocada e mobilizada para enfrentar os desafios mesmo sem o apoio do poder público. Desta forma torna-se necessária essa mobilização social e suas múltiplas organizações, articulando-se no contexto nacional e internacional para reformular as instituições internacionais, inclusive as Nações Unidas, visto que esta é formada em sua maioria por representantes das elites hegemônicas, contrárias às transformações necessárias para salvar o planeta e seus habitantes.
A primeira Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, suscitou a esperança de que o planeta iria em fim enfrentar seus problemas ecológicos e introduzir-se num processo de desenvolvimento sustentável. Com a segunda Cúpula realizada dez anos depois em Joanesburgo, esse sonho em grande parte esfacelou-se. E as principais razões para isso foram:
  • A década de 1992/2002, Rio/Joanesburgo, presenciou o fracasso quase total da Cúpula da Terra do Rio e de sua Agenda 21, em termos de resultados reais;
  • A intransigência dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de Quioto e a Convenção sobre a Diversidade Biológica, ambas resultante da Eco 92, suscitou dúvidas acerca da capacidade do capitalismo em enfrentar a crise ambiental global. Os EUA, como principal potência hegemônica do sistema capitalista, mais uma vez assinalaram a sua rejeição à reforma ambiental, ao anunciarem que seu presidente, Jorge W. Bush, não compareceria à Cúpula de Joanesburgo;
  • A acelerada globalização neoliberal acentuou o antagonismo do sistema em relação às tentativas de promover a justiça econômica e ambiental em todo o mundo;
  • A Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002 ocorreu num período de relativa crise econômica e financeira, o mundo capitalista como um todo estava experimentando uma recessão global.

Porém, não sejamos demasiadamente pessimistas, pois, visto que ao longo dos anos surgiram sinais inconfundíveis de mudança no discurso, quem sabe, esse não se configurem em atitudes nas instituições que são tradicionalmente defensoras do livre mercado, Promulgando uma nova visão e caminhos que possibilitem o abrandamento da pobreza e Salvamento mais que necessário do meio ambiente.

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