quinta-feira, setembro 28, 2006

CAPITALISMO COM SUSTENTABILIDADE
Chegaremos lá?
Por: Leandro Gamelira do Rêgo
Tema da moda em discursos econômicos, sociais e ambientais, o desenvolvimento sustentável tem gerado muitas controvérsias e causado polêmica, mas será que estamos indo mesmo a algum lugar?
A pergunta acima proposta não é o tema principal deste artigo, nem é proposta dele respondê-la, ela está aqui apresentada como reflexão e não como alvitre deste estudo. Não nos cabe questionar a veridicidade ou credibilidade dos trabalhos e estudos já publicados sobre o assunto, mas consideramos de categórica importância avaliar sempre os resultados das discussões visando sua reutilização na melhoria de nosso trabalho.
As discussões acercar do desenvolvimento do sistema capitalista mediante a conservação da natureza e o bem-estar da população, seja em caráter local ou global, tem sido objeto de estudo de economias, sociólogos e ambientalistas já há algumas décadas, e pelo que se pode até aqui perceber, esse estudo ainda está muito longe de acabar. Para entender exatamente de que tratam tais discussões, tornam-se necessários alguns esclarecimentos:Para começar, o porto de partida de uma análise como esta, tem que ser a definição dos objetos a serem estudados, no caso o Capitalismo e o Desenvolvimento Sustentável. Entretanto, a conceituação desses termos por se só já seria matéria de estudo árduo e moroso demais para a elaboração deste artigo. Assim, teremos que nos valer de conceitos simplificados com um alto grau de abstração em suas definições.
Os discursos ambientalistas originados das noções de desenvolvimento sustentável apresentam pelo menos duas vertentes de interpretação: A primeira trata a sustentabilidade com ênfase na questão ambiental e está mais presente nos países de capitalismo avançado. Esta vertente tende a defender uma nova relação do ser humano com a natureza, seja em sua dimensão técnica, seja existencial. A segunda vertente não consegue visualizar a questão ambiental sem ressaltar a dimensão da eqüidade social. Esta vertente está mais presente nos países periféricos, e nas camadas mais pobres da sociedade capitalista. No nosso caso, Brasil, a segunda vertente é a que melhor irá se adequar a presente análise, então essa será a definição de Desenvolvimento Sustentável que utilizaremos.
Outra definição que se faz necessária, e a do que seja Capitalismo, e segundo O AURÉLIO Capitalismo é: “Sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção, na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado e no funcionamento do sistema de preços”. O que não está explícito neste conceito e que deve ser ressaltado é a forma a qual se dá essa organização de modo à obtenção dos lucros, e como se dá essa relação de assalariamento. A característica do capitalismo que nos é relevante para a atual análise, é apontada por Karl Marx em que a fonte de acumulação capitalista está baseada na extração da mais-valia (apropriação da produção excedente gerada pelo processo de modernização da produção), excedente esse que pode ser gerado em detrimento da utilização indiscriminado dos recursos humanos e naturais. Cabe aqui expor os problemas que estas práticas produtivas impõem à natureza e ao ecossistema e ressaltar o caráter concentrador de riquezas e de benefícios sociais a ela associado. Para se ter uma idéia do grau de contradição gerada no próprio meio de produção capitalista, essa busca pela produção e apropriação de excedente na produção gera a conseqüente procura por novas tecnologias que cada vez mais viabilizem o aumento da produção, e ao mesmo tempo, a busca por práticas alternativas a essas tecnologias que possam baratear o custo da produção. Considerando que o modo de produção Capitalista, por si só já apresente contradições quanto a sua própria forma de acumulação, o que dizer de sua base de sustentação, que são a mão de obra assalariada e os recursos de matérias primas extraídos da natureza? O fato é que o capitalismo enquanto tenta absorver cada vez mais desses recursos, provoca seu desgaste e tende a dizimar suas bases de sustentação. Assim, tal característica, inerente ao capitalismo, contraria os princípios do conceito de sustentabilidade adotado, quando compromete o bem-estar da população, uma vez que o processo de acumulação é concentrador de riqueza e que a concentração gera pobreza e até miséria. De fato, pelo que prega nosso conceito de desenvolvimento sustentável, esse se dá pelo crescimento da economia com a preservação do meio ambiente e bem-estar social. Entretanto, o crescimento do Capitalismo se dá com o aumento do excedente e da acumulação, que tendem a gerar escassez de recursos e concentração de riqueza, que descaracterizam o desenvolvimento sustentável.
Assim, a busca pelo equilíbrio entre crescimento, bem-estar social e natureza perdura nos discursos científicos, sem sabermos se estamos ou não cada vez mais perto ou cada vez mais longe de alcançar o chamado Desenvolvimento Sustentável. Com tantas contradições, a resposta àquela pergunta perece ainda distante, e nos leva a crer que o Desenvolvimento Sustentável é inviável ao Capitalismo, e que o capitalismo é inviável ao Desenvolvimento Sustentável.

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